sexta-feira, 2 de maio de 2008

A Reconstrução Futurista do Universo

A filosofia futurista tinha uma ambiciosa e abrangente filosofia de vida que tinha por missão redesenhar o mundo à sua maneira. Um programa futurista politicamente motivado que visava desorientar e reorganizar a experiência italiana, depois a de toda a humanidade, por meio da ruptura radical da linguagem comum. O “Manifesto técnico da literatura futurista” de Marinetti, de 1912, estabelece um programa de revolução sintática:
1. Devemos destruir a sintaxe e espalhar nossos substantivos a esmo, exatamente como eles nascem.
2. Devemos usar o infinitivo, porque ele se adapta elasticamente aos substantivos sem subordiná-los ao “eu” do escritor que observou ou imaginou.
3. Devemos abolir o adjetivo a fim de permitir que o substantivo nu preserve sua cor essencial...
4. Devemos abolir o advérbio, antiga fivela de cinto...
5. Todo substantivo precisa ter o seu dublê; isto é, o substantivo deve ser seguido, sem conjunção, pelo substantivo ao qual se relaciona por analogia. Exemplo: homem-torpedo-barco, mulher-golfo, onda-multidão, praça-funil...
Ele chega a propor, entre outros gestos iconoclastas, a abolição de pontuação e sua substituição pela matemática e pelos símbolos musicais. Extensão e o aprofundamento das analogias, antecipando, assim a concepção surrealista da escrita. Marinetti propõe a destruição do “eu”, “ou seja, de toda psicologia... a fim de capturar o alento, a sensibilidade e os instintos dos objetos livres e dos caprichosos motores”.
Marinetti afirma, no manifesto “Destruição da sintaxe”, que o “futurismo se fundamenta na renovação completa da sensibilidade humana engendrada pelas grandes descobertas da ciência. Ele dilata o alcance dos artifícios futuristas a fim de incluir o “adjetivo semafórico”, a “onomatopéia”, a “revolução tipográfica”, o “lirismo multilinear” e a “livre ortografia expressiva”. O efeito desses termos recém-cunhados foi ampliar não só as possibilidades semânticas da linguagem, como também sua dimensão visual. As experiências tipográficas de celebrado livro de Marinetti Zang Tumb Tumb, de 1914, foram o mais bem-sucedido exercício de ruptura das barreiras entre as palavras e as imagens e, assim, de denotação do edifício das distinções conceituais. O livro se inspira na guerra,” a única higiene do mundo”, e tem a capa baseada nas formas das ondas de choque dos explosivos brisantes e no desenho de um avião em vôo.
Embora nem sempre bem-sucedidas e decerto não inteiramente originais, as experiências literárias de Marinetti significaram um desenvolvimento no projeto modernista de reconfigurar a criatividade, a consciência e a forma estética à luz das mudanças da tecnologia e da ciência, as quais ele identificou como a força motriz da experiência do século XX.

(Fonte: Movimentos da Arte Moderna - Futurismo. Richard Humphreys. Ed. COSAC&NAIFY)

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